terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O CRUZEIRO DAS LAGES EM SANTO ANTÔNIO/RN: Padre Cerveira, o crime que o povo nunca esqueceu.

- Meu Deus! Meu Deus!- Possa o sangue do mártir remir o crime do  presbítero! E, largando o franquisque(machado de guerra) levou as mãos ao capacete de bronze e arrojou-o para longe de si. Muguite, cego de cólera, vibrava a espada: o crânio do seu adversário  rangeu, e um jorro de sangue salpicou as faces do sarraceno. Como tomba o abeto(árvore) solitário da encosta ao passar do furacão, assim o guerreiro misterioso do Críssus(rio) caía para não mais se erguer!... (Eurico, o Presbítero:  Alexandre Herculano 1810/1877: Romantismo Português.)

Teria sido um martírio?

O Padre José Luiz Cerveira, mesmo convicto e ciente das suas obrigações religiosas, parte para uma  querela  desnecessária e quase suicida contra  vizinhos de terra, nas Lages. Adentrando numa senda perigosa e, ao mesmo tempo, indo de encontro a sua ruína.
Fato esse, inusitado, que permeia pela ignorância que imperava no inicio do século 20, não poderia ter acabado de maneira diferente. A não ser  num incidente de dimensões  catastróficas para a recém fundada cidade (vila) de Santo Antônio.

A paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Santo Antônio/RN conta que o famoso e sombrio crime aconteceu (segundo fontes da própria igreja)  em 25 de fevereiro de 1904.
“O Padre Cerveira se dirigiu com destino a Lages (Distrito de Santo Antônio- RN) a fim de mandar derrubar um cercado que havia sido construído por Joaquim Clemente, com madeira tirada numa mata pertencente ao Padre. O Padre foi acompanhado por diversos trabalhadores. Ali chegando, apareceram Joaquim Clemente e seus dois filhos, Joaquim e João. Um de seus filhos pediu ao sacerdote que não mandasse derrubar a cerca. Como o Padre não atendeu  à solicitação, ele vibrou uma facada no seu estômago, e  derrubou-o do cavalo em que estava montado, como se isso não bastasse, os três precipitam-se, sobre o Padre e vibraram-lhe várias outras facadas; o sacerdote expirou imediatamente. Um dos presentes que era afilhado e amigo do vigário, tentou socorrê-lo, porém foi igualmente assassinado.

Os criminosos foram capturados imediatamente. Padre Cerveira era Português e contava com 69 anos e era também Médico homeopata, empregava o sistema Hahnemann(Do alemão Samuel Christian Friedrich Hahnemann) e aplicações hidroterápicas, fez numerosas curas em pessoas pobres de sua freguesia”.

O assassinato do Padre Cerveira atravessou gerações e hoje, no local do crime, encontra-se um famoso, e ao mesmo tempo , esquecido  cruzeiro erguido em sua homenagem e que lembra aquele terrível e singular episódio de nossa história. E atualmente temos uma rua em sua homenagem:  Rua Padre Cerveira(antiga Rua do Motor).

Segundo o proprietário atual, O Senhor Luíz Maia, sempre aparecem devotos, religiosos e também curiosos de várias cidades do RN e PB; e até de outros estados, colocando sobre o cruzeiro, objetos: terços, pequenas relíquias, muletas, imagens de santos em geral, velas, etc. Todos para pagarem as promessas de bênção e graça, segundo eles, alcançadas.
Na minha opinião merecia ser erguida uma pequena capela no local e ser construído um melhor acesso, para  melhor servir aos peregrinos que se desloca ao local para fazer e pagar as sua promessas. Lute por esse justo espaço religioso! Memória da nossa História. E ao mesmo tempo visite-o, vale a pena conhecer.

Caminho ao santuário

Por Claudianor D. Bento

Produzi essa matéria no início do ano passado. A pedidos, resolvi republicar. 





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