domingo, 18 de novembro de 2012

Batman e a Filosofia


 O cavaleiro das trevas

Batman talvez seja o personagem mais complexo que já apareceu nos quadrinhos. São tantos conflitos (externos e internos) que não faltou material para o livro Batman e a Filosofia, publicado pela editora Madras.
Como sempre faço com os títulos dessa coleção, começo a ler os artigos que me chamam mais atenção. Nesse caso foi especialmente difícil escolher, porque todos os assuntos pareciam bastante interessantes. São questões deliciosamente divertidas como “A loucura do Coringa – O príncipe palhaço pode ser considerado moralmente responsável?”,
“Bruce Wayne deveria ter se tornado Batman?”, “Batman poderia ser o Coringa” ou “Por que Batman é melhor do que Super-Homem?”. Escolhi então uma questão que sempre me passou pela cabeça.

Por que Batman não mata o Coringa?

Qualquer fã daria uma resposta rápida a essa questão. O Cavaleiro das Trevas jurou não matar para não se equiparar aos criminosos que caça pelas noites de Gotham. O artigo de Mark D.White discute a questão sob a visão de dois conceitos filosóficos: o utilitarismo e a deontologia.
Pense bem, matar o Coringa não teria evitado centenas de mortes? Esse é um raciocínio típico do utilitarismo, um sistema de ética que requer a maximização da felicidade total ou do bem-estar resultante de nossas ações. Ou seja, uma forma de consequencialismo, onde se avalia uma ação unicamente em função de suas consequências.
Os heróis de quadrinhos normalmente não são utilitaristas, pois para eles existem certas barreiras que não podem ser transpostas. Assim, eles não matam mesmo que o motivo seja salvar muitas outras vidas. No utilitarismo isso não tem sentido. Seria como dizer que Batman está permitindo que muitas pessoas morram porque ele não quer matar apenas uma. O autor cita uma frase de Jason Todd questionando a decisão de manter o Coringa vivo que ilustra bem isso. “Eu pensei que quando ele me matasse – que eu seria a última pessoa que você o deixaria ferir”.

Se no utilitarismo a solução mais fácil seria acabar de vez com a vida do vilão, na deontologia esse ato seria inaceitável. Nessa doutrina ética, a moralidade dos atos está nas suas próprias características e não nos seus resultados. Ou seja, os fins não justificam os meios e o meio deve ser justificado por seus próprios méritos. Assim, matar o Coringa é um ato moralmente condenável porque matar é errado e isso independe dos resultados futuros desse ato. Isso explica a visão de Bruce Wayne, concorda?
O Bonde do Batman
Para ilustrar esse dilema, White utiliza o “problema do bonde” dilema filosófico elaborado por Judith Jarvis Thompson. Imagine um bonde em movimento. Nos trilhos estão cinco pessoas que não estão ouvindo o som dele se aproximando e não há tempo para pará-lo ou avisar as pessoas para saírem da frente. A única solução é desviá-lo para um outro trilho. O problema é que nesse outro caminho também existe um homem parado que não conseguirá escapar. Imagine então que existe um observador ao lado da alavanca de mudança dos trilhos. Ele deve fazer uma escolha: não fazer nada ou agir e desviar o bonde, causando a morte de uma pessoa.
Imagine agora Bruce Wayne. Ele é o cara da alavanca. De um lado cinco inocentes e do outro o Coringa. A escolha fica mais fácil, não é? A diferença para o “problema do bonde” é que conhecemos o antecedente moral de um dos envolvidos, o que talvez facilitasse a escolha da solução a ser tomada. “Afinal de contas, por que as vítimas dele deveriam se sacrificar para que ele vivesse – principalmente quando lembramos que ele vive para matar pessoas inocentes?”.

Pré-punição

Analisando o exemplo acima, vemos que a opção de matar o Coringa é baseada na suposição que isso evitaria mortes futuras. Mas como afirmar isso? Será que aquela não poderia ser sua última vítima? O fato é que não é possível ter certeza absoluta que ele matará novamente, logo também não é possível afirmar que estamos salvando qualquer vida com sua morte. Ok, o cara tem antecedentes que falam por si só. Mas podemos dar um fim nele sem saber se vai voltar a matar?

Punir as pessoas antes que elas cometam um crime corresponde a pré-punição, conceito que se tornou famoso com The Minority Report, conto de Philip K.Dick e sua posterior adaptação para o cinema. Aí complica!!! Quem defende que o correto é matar o Coringa, alega que o vilão não deixa dúvidas que vai voltar a agir, o que elimina a possibilidade pré-punição. Os que defendem que é moralmente errado matá-lo podem afirmar que, por mais que seja improvável, o palhaço do caos pode se arrepender e não mais praticar crimes e é por respeito a essa possibilidade de escolha que não devemos pré-punir.

E qual a sua conclusão?

Felizmente para os fãs, Batman dificilmente mataria o Coringa (e vamos combinar, se matasse um tempo depois a DC ia ressuscitar). Ele já teve diversos motivos e oportunidades, sendo que sempre conseguiu manter seus valores morais intactos.

Deixo como conclusão, uma citação ao próprio artigo:

“Se dissermos ao Cruzado Encapuzado, como muitos o fizeram: “Se você não matar o Coringa, as mortes de todas as futuras vítimas dele estarão em suas mãos”, ele poderia responder muito bem responder “Não, as mortes que o Coringa causa são responsabilidade dele, e apenas dele. Só sou responsável pelas mortes que eu provoco”. Esse é outro modo de encarar a regra agente-centrado que discutimos antes: o observador no exemplo do bonde poderia afirmar: “Não fui eu quem fez com que o bonde colocasse a vida das pessoas em perigo, mas eu causaria a morte de uma pessoa se o desviasse”. 
Texto acima de (Kitty Prado)

COSMOVISÕES SUBJACENTES

Ausência de Sobrenatural

Batman é um super-herói diferente. É um herói sem poderes sobre-humanos. Não sofreu nenhuma mutação, não veio de outro planeta, é repleto de cicatrizes, tem crises psicológicas, sofre por um amor não resolvido e é perseguido pelo “fantasma” da perca prematura dos seus pais (determinante em quase tudo em sua vida).
Ele não somente ajuda os policiais como também é salvo por eles. Suas virtudes são exclusivamente humanas. Especificamente, são virtudes intelectuais e físicas (e.g., habilidade nas investigações, grande aptidão em artes marciais e, sem máscara, um excelente homem de negócios). Podemos dizer que Batman é o legítimo e verdadeiro Super-Homem. Por isso é o herói “mais próximo” do seu público.
Essa característica tão marcante do homem-morcego, ignorada por Joel Schumacher em Batman e Robin (1997) foi reverenciada e levada às últimas consequências por Christopher Nolan (diretor) em BCT. Para Nolan, realidade significa ausência do sobrenatural. Isso foi evidenciado em sua tentativa de evitar o uso de recursos computadorizados. Seu objetivo é evitar, ao máximo, no espectador, o referencial de ficção. Não é a toa que todas as explosões são reais.
Uma das cenas grandiosas do filme é a destruição do hospital de Gotham. Aqui Nolan não fez qualquer manipulação de imagem. Um prédio real foi destruído. No filme, é Ledger (Coringa) que aciona os explosivos. Foi exatamente isso que aconteceu.
Outro exemplo se dá com os equipamentos do Batman. Todos são reais. Sua moto, assim com sua armadura, realmente existem e podem ser utilizadas na prática. Essa busca contumaz por uma maior realidade determinou o custo do filme (180 milhões de dólares) bem como a rejeição de alguns personagens como Pingüim. Para Nolan, o Pingüim destoava do universo realista dessa série.
A realidade (ausência do sobrenatural) do Batman também pode ser vista em suas limitações. Em uma das cenas primorosas do filme, o Coringa coloca Batman em um dilema: ou ele salvaria a vida de sua amada (Rachel) ou a vida do promotor público (Dent). Revelando as limitações do herói, o Piadista afirma: “Você não pode fazer nada com toda sua força”. E realmente Batman não consegue. Aliás, ele não consegue salvar nenhum deles.
Um dos efeitos dessa busca pela realidade (sem sobrenatural) é nos aproximar do herói, sua história, seus sentimentos, bem como seus ideais. A priori se você tem uma boa saúde, muito dinheiro e um ideal, você também pode ser um Batman. Porém, como ele, não resolverá todos os dilemas da vida.

Moral e Ética

Os heróis convencionais seguem as regras. Eles não mentem (geralmente omitem), não invadem a privacidade de trinta milhões de pessoas e não torturam. Não é assim com o Batman. É fato que há certo e errado em BCT. Em outras palavras, há moral para o Cruzado Encapuzado. Porém, isso não é o mesmo que seguir a ética vigente. Ética e moral são distintos. O primeiro pode ser mudado e violado enquanto o segundo deve ser obedecido.
Batman vai além do conceito convencional de herói. Segundo o filme, ele é melhor que um herói. A obra deixa patente que ser herói não basta. Ele é o agente do bem, mas não pode estar preso às amarras da ética. Alfred, seu mordomo e conselheiro, afirma que Batman é a única pessoa que pode tomar a decisão correta, pois ele está além da lei, ele não responde à lei, ele está “nas trevas”.
Para BCT, a verdade e o legal são utópicos. Apesar de existir certo e errado, sua aplicação é irreal. Alguém tem que se sacrificar. Alguém que não está preso às amarras da ética convencional. Em sua carta de despedida, Rachel, amiga e amada por Batman, afirma: “O mundo vai sempre precisar do Batman”. Respeitando o contexto da declaração, ela quis dizer que nunca vai surgir um herói “sem máscaras” que siga as regras plenamente – um cavaleiro branco.
Como todo homem sem referencial fora de si mesmo, Batman tem suas próprias regras. Tem moral, mas é ele quem a determina. Sua ética não é baseada em um senso moral a priori (infinito e universal). “[…], a posição moral de Batman se origina de uma apreciação da complexidade do comportamento humano e das formas extremas que ele pode assumir” 9. Sua única regra é não matar. Porém, essa regra está ligada a sua experiência de orfandade prematura e traumática.
A postura de Batman lembra o viver autêntico do existencialismo de Martin Heidegger.10 Segundo o Coringa, poucos se encaixam nessa categoria. Batman e o próprio Coringa seriam um desses. Um (Batman) escolheu combater o crime, o outro (Coringa) escolheu o cinismo e a loucura. A máfia bem como a polícia, por outro lado, são “idiotas” (palavras do Coringa) porque, como a grande maioria, é escrava do sistema. Segundo Joker (Coringa), “o código de honra deles é uma piada (joke) ruim”.
A tese do Coringa é que as pessoas são tão boas quanto o mundo (sistema) permite. Não há uma regra universal. No primeiro sinal de problema ou pressão, o ser humano abandona seus códigos éticos. Se o sistema permitir, diz o Coringa, as pessoas devorariam umas as outras. “Anomalias” como Batman e Coringa seguem sua “vida autêntica”. A diferença, afirma o Coringa, é que agora o sistema precisa do Batman, por isso o aceita, mas logo o expulsará como a um leproso. Para o Piadista (Joker) sua rejeição se dá por estar na vanguarda. Ele está além do Batman. O homem-morcego ainda está preso às regras. E para o Coringa, o único jeito de viver de uma forma sensata é não ter regras.
Há certa indefinição e/ou incoerência na postura moral do Batman. Ora ele parece ser um deontologista11 quando não somente não consegue matar o Coringa [talvez sua única regra] como também o salva e luta com a culpa de mortes que não foi o responsável direto;12 ora é um perfeito adepto do pragmatismo e/ou utilitarismo quando se sacrifica sendo odiado escolhendo a mentira como consolo para o povo. Batman é um enigma entre o mocinho e o ladrão, entre o que é correto fazer e o que é, de certa forma, ilimitado pela maldade, crueldade ou o desejo de realizar, pelo mal, o inimaginável. Ele faz o que é moralmente certo, mas “nas trevas”, ou seja, é um fora da lei.

Pessimismo

A realidade e proximidade do Batman para com o ser humano não são moldadas pelo romantismo do modernismo. Por mais que o herói seja inteligente, hábil fisicamente, possua ideologia e seja um dos homens mais ricos do mundo, ele não resolve tudo. Aliás, ele não consegue resolver seus próprios problemas.
O objetivo do herói do filme é dos mais nobres: inspirar o bem. No entanto, sua existência atrai criminosos cada vez mais loucos como o Coringa. Com toda sua força o herói perde sua amada, e, nas palavras do promotor Dent (aprovadas pelo próprio Batman), ele não passa do produto da indiferença e/ou crítica do povo. Aquele em quem Batman aposta suas fichas para ser o verdadeiro herói de Gotham, o herói sem máscara e seguidor da lei, acaba se tornando um criminoso – chamado posteriormente de Duas Caras.
O pessimismo não está presente somente no insucesso de Batman, mas na relação de dependência ontológica entre o bem e o mal na qual Batman e Coringa estão presos e são seus estereótipos. O filme coloca o bem como uma resposta ao mal, enquanto o mal só existe porque há o bem para combatê-lo. Coringa diz para Batman: “Eu te matar? Eu não quero te matar, você me completa...”. Em outro diálogo Coringa diz: “acho que nós dois estamos destinados a fazer isso para sempre”.
Batman é um homem tentando resolver os problemas do seu povo. Porém, sem sucesso. O Coringa é um louco, autodenominado agente do caos, que tem seus planos, ora são realizados com sucesso, ora são frustrados. Batman e Coringa representam a luta sem fim entre bem e mal.
Há uma máxima que sintetiza o filme. Ela aparece tanto no início como no fim da obra. Primeiro na boca do promotor público (Harvey Dent), posteriormente pela boca do próprio Batman. Segue: “Ou você morre herói ou vive o bastante para ver você mesmo se tornar vilão”. Esse aforismo é realizado tanto na vida do promotor que começa como a grande solução para Gotham e se torna um assassino movido pela vingança e termina com Batman que assume os crimes que não cometeu para manter a imagem do promotor. Ou seja, se alguém planeja fazer o bem, só poderá morrer herói se morrer cedo, caso contrário, se tornará um vilão (pela prática ou pela reputação). É uma questão de tempo. Nada mais pessimista.

Esperança Existencialista

Se a eternidade é cíclica e o mal e o bem sempre existirão, o que fazer, então? Batman prefere a fé (esperança) na mentira do que a verdade que não produz esperança. Segue seu último diálogo no filme logo após a morte do símbolo de esperança – o promotor Harvey Dent denominado “Cavaleiro Brilhante”:
– As pessoas vão perder a esperança (Comissário Gordon).
– Não vão não. Eles nunca vão saber o que ele fez (Batman).
– Cinco mortos. Dois policiais. Não se pode varrer isso (Gordon).
– Não. O Coringa não pode vencer. Gotham precisa de um herói de verdade (Batman).
– Não. (Gordon)
– Ou você morre herói ou vive o bastante para ver você mesmo se tornar vilão. Eu posso ser as duas coisas. Porque não sou herói. Não como Harvey. Eu matei aquelas pessoas. É o que sou (Batman).
– Você não é (Gordon).
– Eu sou o que Gotham precisar […] Às vezes a verdade não basta. As pessoas merecem mais. Às vezes as pessoas merecem ter sua fé recompensada. (Batman).13
Destaque para sua última declaração. Para Batman, a dura realidade de uma vida sem esperança pode ser substituída pela mentira (aqui no caso não é o mesmo que omissão). Para o Cavaleiro das Trevas, a recompensa para fé é a realização da mesma, mesmo que seja um embuste. O que não se pode é parar de esperar. A mentira é um mal menor diante da falta de esperança. Nesse mundo de injustiças o povo precisa acreditar. É isso que move as pessoas.

MOMENTOS DE VERDADE

Os Limites da Justiça Humana

Em Eclesiastes 3:1-15 nos assegura que Deus tem um plano grandioso que abarca todos os homens e suas ações em todo o tempo. O homem não decide o seu nascimento e uma vez vivo descobre que pode morrer e ele não decidiu isso. O mesmo acontece com os vegetais. É Deus quem controla todas as coisas. Nesse mesmo contexto o autor nos revela que Deus colocou a eternidade no nosso coração sem dá condições de resposta sobre o princípio e o fim. Precisamos de Deus, precisamos de Sua revelação sobre a vida, os valores, o certo, o errado e o bem. Em 3:16-4:16 o autor apresenta algumas anomalias e aparente contradições que podem ser implicadas do que acabou de assegurar: o controle de Deus. O verso 11 diz que Deus fez tudo “formoso”. Mas, o verso 16 diz: “Vi ainda debaixo do sol que no lugar do juízo reinava a maldade e no lugar da justiça, maldade ainda”.
O Pregador observa que aonde deveria ter justiça encontramos maldade. Diante desse quadro aonde lançar nossas esperanças? O texto responde: “Então, disse comigo: Deus julgará o justo e o perverso; pois há tempo para todo propósito e para toda obra” (3.17). Em outras palavras, não justiça plena enquanto o homem for seu único agente.
O filme revela as limitações que a lei (queda) impõe na aplicação da justiça “maior” (criação). Não dá para fazer o certo estando “preso” à lei. Por duas razões: as limitações da própria lei bem como as limitações dos que a aplicam (queda). Usando a terminologia do filme, é preciso fazer a justiça “nas trevas”.
A constatação de que não se alcança verdadeira justiça pela força do homem é correta (queda). Não são poucos os que procuram justiça nos meios convencionais e experimentam frustração. Esperar pela justiça “dos homens” é esperar demais. O grande diferencial se dá em como devemos reagir diante de tal constatação (redenção). Aqui os cristãos se separam tanto do Coringa quanto do Batman. Os cristãos confiam em Deus. Romanos 12.19 é claro: “…não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor”. Além disso, o reconhecimento das limitações das leis não nos impelem a aceitar tudo da lei.
O herói das trevas, como nos mitos antigos, não deixa de ser (ou querer ser) um deus que resolve tudo com suas próprias mãos (queda). Como cristãos, ficamos com a constatação, porém mudamos na reação. Lutamos reconhecendo nossas limitações esperando que no final a justiça plena venha por meio de Deus (redenção).

Tendência ao mal

Antes de adentrar ao assunto, faz-se necessário descrever uma cena crucial: O Coringa coloca explosivos em duas barcas. Em uma delas estão “civis inocentes” (terminologia do filme), em outra, somente presos (condenados por roubo, morte etc.). O detonador dos explosivos da balsa dos presos ficou no poder dos cidadãos comuns enquanto o detonador dos explosivos da balsa dos “inocentes” ficou com os prisioneiros. O Coringa orienta ambas as balsas de que às 00:00h ele vai explodir ambas caso uma delas não esteja já destruída. Ou seja, o barco que destruir o outro, estará livre. A hora chega e nenhum barco destrói o outro. Diante desse quadro Batman diz ao Coringa: “O que você quer provar? Que lá no fundo todos são podres [ugly] como você? Só você é podre […] “Essa cidade acabou de mostrar que está cheia de pessoas que só acreditam no bem”14.
O fato é que o Coringa nesse ponto está certo. A maioria do barco dos “civis inocentes” decide por explodir o outro barco. E no barco dos presidiários, um grupo decide matar o responsável pelo barco para explodir o outro. Ambos os barcos querem explodir o outro, mas, ou não têm coragem (o barco dos “inocentes”) ou falta oportunidade (o barco dos condenados). Não faltou vontade (desejo), faltou coragem e oportunidade.
Em resposta ao Batman, o Coringa afirma que o espírito da cidade não se corrompeu completamente ainda, mas quando souberem dos atos “heroicos” do promotor (assassinou cinco pessoas) as cadeias vão ficar cheias. Ele (Coringa) colocou Harvey Dent no mesmo nível dele e do Batman. Ele agora fazia parte do grupo dos fora da lei. Segundo o Coringa, isso não foi difícil.
Batman no fundo acredita no Coringa, por isso escolhe mentir sobre o Harvey assumindo seus crimes. Ele sabe que, no fundo, o povo vai se rebelar ao saber que o promotor, a esperança de Gotham, é um assassino. Essa é a tendência da humanidade. Nas palavras do Coringa: “A loucura é como a gravidade, basta um empurrãozinho”. Se o sistema permitir, afirma o piadista, “as pessoas civilizadas comerão umas as outras”.

Respostas Bíblicas para Algumas Questões

O Sistema e o Indivíduo
No filme a população ou a “massa” muda de acordo com as condições. Apoia o Batman, no entanto, logo após o Coringa começar a matar pessoas ameaçando não parar até a revelação do mascarado, todos queriam a revelação de sua identidade; o que significava o fim de sua vida de herói e o começo de uma vida de prisioneiro.
Segundo o Coringa: “Loucura é como a gravidade, basta um empurrãozinho”. O Coringa defende a ideia de uma influência determinante do sistema nos indivíduos. Para ele, se colocarmos (e isso inclui o sistema) as pessoas em situações de tensão que elas revelarão quem realmente são – loucas e sem moral. Isso fica claro quando afirma que “as pessoas são tão boas quanto o mundo (sistema) permite”. O próprio Batman acredita nisso, quando no final do filme entendeu que a mentira sobre uma instituição (promotoria pública) era o melhor para o povo.
A perspectiva Teo-referente, por outro lado, assegura que nossa cosmovisão é o produto do nosso coração pecaminoso e apóstata somado às estruturas psíquico-sociais e histórico-culturais (e.g., educação [formal, e principalmente familiar nos primeiros anos de vida], cultura regional, relacionamentos, meios de comunicação). O relacionamento dessas duas nuanças (interna e externa) da construção da cosmovisão humana deve ser entendido como camadas sobrepostas. O coração (substrato interno da existência humana) é a matriz primordial seguida das camadas supracitadas.
Pressupondo uma antropologia bíblica, o homem, devido ao pecado, consequentemente, não interpreta a vida de forma neutra ou vazia como se fosse, nas palavras do empirista inglês John Lock, uma tabula rasa. Pelo contrário, o coração humano é religioso por natureza e após a queda esse coração continua sendo para-Deus, porém em rebelião.
As Escrituras nos revelam que essa esfera ou dimensão que chamamos de “coração” é a mais profunda do nosso ser (self), e por isso, inacessível a toda forma de análise ou procedimento de sondagem empírica (cf. Sl. 139.23, 24; Jr. 17.10). O acesso só se dá pela Palavra através do Espírito (1Co 2.13-15; Hb 4.12). A mudança radical de uma cosmovisão, portanto, é o que a Escritura chama de “regeneração” (Jo 3.3,4; Tt 3.5).
Em síntese, o sistema tem seu papel na formação das cosmovisões, porém não é determinante. Caso aceitássemos tal postulado eliminaríamos a culpa do indivíduo. “A idolatria [no sentido de pecado] é um problema profundamente enraizado no coração e poderosamente impingido sobre nós pelo ambiente social”15. A complexidade do ser humano não permite que façamos declarações como as que o Coringa fez. Nossa tendência, sim, é para o mal. Mas como ele se revelará é outra história. O mal não tem só uma cara (Cl 2.23; 2Co 5.12; 2Co 11.14).

O bem e o mal

Muitas são as propostas que têm se levantado diante da problemática do bem e o mal – sua existência, origem, relação com Deus e entre si. Alguns têm diminuído o poder de Deus (teísmo aberto); outros versam que o mal não passa de uma ilusão (Budismo), o que gera outro problema: a ilusão do mal. Outros adotam a visão do Coringa. Entendem o bem e mal como entidades de dependência ontológica. O filme (através do Coringa) assegura que o bem como uma resposta ao mal, enquanto o mal só existe porque há o bem para combatê-lo. Coringa diz para Batman: “Eu te matar? Eu não quero te matar, você me completa...”16
Para os reformadores o mal é definido como privatio actuosa. O ponto aqui é que o mal não pode existir em si e de si mesmo. Ele depende da corrupção do bem. A relação de dependência seria equivalente à do ferro e a ferrugem. O primeiro não depende do segundo para existir, mas o contrário é fato.
A incoerência de Coringa é facilmente refutada. Se o bem depende do mal, o mal passa a ser um bem encoberto. “Mas o mal do qual Deus extrai o bem é um mal verdadeiro. Da traição cometida por Judas contra Jesus vem o ato redentor da cruz, mas isso de forma alguma minimiza a perversidade do ato de Judas”.17 Nessa concepção, para experimentar bem, o próprio Deus deveria experimentar o mal.



Fonte: Teologiabrasileira.com

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