Presépio: Obra de Xico Santeiro (Fonte: brechando.com)
Xico Santeiro, natural de Santo Antônio/RN (do Sítio Tinguijado)
Xico Santeiro, ícone da Cultura
Popular do RN
Joaquim Manoel de Oliveira
conhecido como Xico Santeiro, nasceu no município de Santo Antônio do Salto da
Onça – RN, em 1889.
Juntamente com seu pai, Manoel
Francisco Xavier, foi santeiro ambulante por cidades de Pernambuco, Paraíba e
Rio Grande do Norte.
Nessa fase inicial de sua
carreira, fazia um trabalho artístico voltado para as devoções populares,
destinado a ser conservado nos oratórios domésticos ou exposto em dias de
festas – nas novenas – ou nos momentos de oração em família.
As esculturas devocionais eram
pintadas. Recebiam uma policromia para ficarem parecidas com as imagens que
eram vistas nas capelas, igrejas e paróquias.
Xico Santeiro (Fonte:sabedoria política e brechando.com)
Atendeu assim, durante muitos
anos, a demanda dos católicos que cultuavam as imagens sacras.
Provavelmente, muitas dessas
peças ainda são preservadas, no silêncio dos oratórios populares. Difícil
identificá-las, hoje, até porque não eram assinadas e, além do mais, realizados
em parceria com seu próprio pai.
Do tempo em que “pintava” as
imagens pouca coisa se conhece do trabalho que restou. Mas, ainda assim,
algumas peças policromadas dão testemunho do referido período.
Cansado da vida de ambulante,
Xico Santeiro, já casado com Maria Feliz de Oliveira, com quem teve oito filhos
(dos quais três morreram antes da primeira infância), fixou residência em
bairro humilde de Natal, à margem da linha do trem, no quilometro cinco.
Presépio: Obra de Xico Santeiro (Fonte: brechando.com)
Quanto à “descoberta” de Xico
Santeiro na “grande cidade” não se conhece muitos detalhes.
Veríssimo de Melo relata que foi
o comerciante Sérgio Severo, descendente dos “Albuquerque Maranhão” quem o
apresentou ao mestre Câmara Cascudo. Isso se deu, provavelmente no final da
década de 1940. Xico Santeiro conta que Câmara Cascudo gostava de fazer
encomendas de “Santo Antônio” (miniaturas policromadas) que presenteava às
moças que tinham pressa em arranjar “casamento”.
Em 1950, no Jornal “A República”,
Câmara Cascudo redige uma calorosa apresentação do escultor popular Xico
Santeiro. Graças à divulgação feita através de impressa, Xico torna-se
conhecido e vai, pouco a pouco, consagra-se como um ícone ou um símbolo da
força da arte popular do nosso Estado.
É o começo de uma nova fase,
caracterizada por obras de cunho mais popular que ele passa a executar com seu
canivete, na imburana crua, isto é, sem pintura. Esculpe com mais agilidade
centenas de cangaceiros, rendeiras, pescadores, Fabião das Queimadas, Inácio da
Catingueira, Zé Minininho, enfim, gente do povo.
Não se pode esquecer que essa
mudança aconteceu graças ao incentivo de Protásio de Melo, Veríssimo de Melo e
outros intelectuais sob a influência do Movimento Modernista Brasileiro.
Infelizmente, as novas encomendas chegaram ao extremo de pedir a Xico Santeiro
para esculpir Buda, Beethoven, estatuetas africanas e outros temas alienígenas
à sua cultura.
De acordo com inúmeros
depoimentos foi ainda Câmara Cascuda que levou o Prefeito Djalma Maranhão, (em
sua 1ª gestão) à casa de Xico Santeiro, quando já residia na Praia de Areia
Preta.
Entre o Prefeito e o Artista
surgiu uma admiração mútua.
De imediato, Djalma Maranhão
adquire várias esculturas de Xico Santeiro e cria o 1º Museu de Arte Popular do
Estado.
O acervo cresceu rápido e foi
ampliado com esculturas de outros artesãos, inclusive com cerâmicas vindas de
Caruaru, assinadas pelo Mestre Vitalino.
Em 1991, a universidade Federal
do Ceará, presta uma homenagem especial a Xico Santeiro. Nessa ocasião adquire
para o museu da referida universidade – MAUC – uma centena de esculturas
populares, assinadas por Xico Santeiro, Irene Oliveira e Zé Santeiro. Hoje
constitui um acervo precioso para os estudiosos da cultura popular.
No final de 1962, Djalma Maranhão
reconhecendo que Xico Santeiro não tinha um chão próprio para morar e
trabalhar, faz-lhe doação de uma pequena casa, situada à rua Guanabara, no
bairro de Mãe Luiza. Em 1963, Navarro escreve uma crônica na Tribuna do Norte,
intitulada “Nova Casa de Chico Santeiro”.
Ainda em 1963, com a instalação
da Galeria de Arte, na Praça André de Albuquerque, ele teve a oportunidade de
ver suas peças expostas ao público. Na referida galeria também participou de
várias exposições, uma dela, inclusive, ao lado de Newton Navarro, assessor da
Diretoria de Documentação e Cultura, então dirigida por Mailde Ferreira Pinto
Galvão.
Em Natal, Xico Santeiro foi um
divisor de águas. A história da escultura popular, hoje, se divide em duas
épocas fundamentais: “Antes e depois” de Xico Santeiro. “Antes” é a história da
arte popular anônima. Só as obras que sobreviveram ao tempo dão testemunho do
talento e da criatividade, sem registrar nomes. “Depois” é a história da
valorização da arte popular. É a ação comprometida do Prefeito Djalma Maranhão
com a cultura do Povo. Também o surgimento de colecionadores em residências
particulares ou em instituições públicas. Enfim, um “conceito novo” de Arte
Popular passa a ser debatido nos quatros cantos da cidade.
Caso semelhante ocorreu em Pernambuco,
que teve como marco divisor a obra do Mestre Vitalino.
Poderíamos ainda fazer
referência, ao estado do Ceará, que, nessa mesma época, contou com o
reconhecimento do Mestre Noza, xilógrafo e escultor, vinculado igualmente às
tradições populares.
Mestre Vitalino e Mestre Noza
foram, por conseguinte, contemporâneos de Xico Santeiro. Três nomes
indispensáveis ao conhecimento da arte no Nordeste do Brasil, do século XX.
Em Natal, Xico Santeiro ainda
teve o mérito de fundar uma “escola”, no sentido de ter criado uma maneira, um
estilo de esculpir. Entre os discípulos merecem destaque especial sua filha
Irene Oliveira, casada com outro discípulo, José Santeiro, ambos já falecidos.
Também pertenceu a mesma escola, um outro genro de Xico Santeiro, conhecido
como Zé Nicássio ou Zé de Neuza. Ele reside atualmente em Taipú-RN e continua
produzindo, sem jamais negar a influência que recebeu do seu Mestre.
Em 1964, com o golpe Militar
ocorrido no Brasil, o conceito de arte popular passa a ser questionado e até mesmo
a ser considerado como “subversivo”. O Museu de Arte Popular, criado por Djalma
Maranhão, foi totalmente desarticulado e na sequência dos tempos ditatoriais, a
Galeria de Arte, edificada na Praça André de Albuquerque, totalmente demolida.
No começo de 1966, abatido pelos
acontecimentos políticos que ele vivenciou profundamente, ao lado de Djalma
Maranhão, Xico Santeiro veio a falecer em Natal, no Hospital das Clínicas, com
diagnóstico de doença hepática.
Apesar do tempo decorrido, a
memória de Xico Santeiro e a memória de Djalma Maranhão continuam vivas, na
Cidade do Natal.
Fonte: http: dhnet.org.br/
Texto de Antônio Marques.